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DESAFIO
UM ESTRANHO NO TEXTO
Por Sandra Dantas Lima
Postado em 07/09/2020
Antifas, graças a Deus!

“O pior governo é aquele que exerce a tirania em nome da lei."                                                                                                                               Montesquieu

Quando falamos em fascismo, pensamos imediatamente em Benito Mussolini, ditador que governou a Itália por mais de vinte anos (entre 1922 e 1943) e que influenciou Francisco Franco, na Espanha, Juan Perón, na Argentina, e o líder nazista Adolph Hitler, na Alemanha. As bases fascistas fundamentavam-se no militarismo, no autoritarismo, no nacionalismo, no totalitarismo e na violência. Em outras palavras, o fascismo valia-se do poder para silenciar, de maneira brutal, quem se opusesse a seu regime. 

Benito era sanguinário, megalomaníaco e corrupto. Perpetuou-se por longos anos como o Duce, ou simplesmente "Líder", em italiano, mas, por causa dos desmandos acumulados em seu governo, foi executado por guerrilheiros antifascistas, os partigiani

Não há como corroborar uma prática intolerante e odiosa como o fascismo, pelo menos, se você preserva valores humanos, mas há como se apropriar do seu discurso para provocar boas risadas. Foi isso que fez o seriado The Office, cuja tradução literal é "O Escritório".

No episódio 17 da segunda temporada, um dos mais hilários de toda a série, intitulado Dwight's Speech, ou: "O Discurso de Dwight"; o vendedor Dwight Schrutte ganha o prêmio de maior vendedor do ano da empresa fictícia de papel Dunder Miflin e, por isso, é convidado a fazer um discurso para uma plateia imensa de vendedores. O problema é que Dwight viveu um grande trauma em público, quando estudante, e teme que a experiência do passado se repita no presente. É aí que entra o colega de trabalho Jim Halpert, que tenta lhe pregar uma peça, aconselhando-o a imitar o discurso de Mussolini: "Grandes palestrantes da história não eram piadistas, eram pessoas apaixonadas. Se você quer se sair bem hoje, precisa fazer o que eles fizeram. Você tem que mexer os braços e bater o punho várias vezes. Tem que enfatizar seu argumento."

Como Dwight está uma pilha de nervos, prestes a ter um piripaque a qualquer momento (os pés balançam, as pernas tremem, o suor é evidente), seu chefe sem noção, Michael Scott, prontifica-se a fazer o discurso em seu lugar. Mas as piadas preconceituosas e inexpressivas de Michael não surtem o efeito desejado. Solenemente ovacionado pelo público, resta-lhe “passar o bastão” a Dwight, alertando o subordinado de que sua tarefa não será nada fácil.

Seguindo o conselho de Jim, Dwight apela para um discurso populista e demagógico, fortemente inspirado no fascismo. Já no início, bate os cotovelos no púlpito, o que atrai imediatamente a atenção dos espectadores: "Só o sangue move as rodas da história! Vocês já se perguntaram (...) há quanto tempo lutamos pela grandeza? Não só os anos em que estivemos na guerra, na guerra do trabalho, mas desde o instante, quando crianças, quando percebemos que o mundo podia ser conquistado (...) Digo a vocês, que vão entender, que é um privilégio lutar!”. As palmas, inicialmente modestas, aumentam gradativamente, e Dwight ganha confiança: “Somos guerreiros! Vendedores do nordeste da Pensilvânia, eu lhes peço mais uma vez, ergam-se e mereçam este momento histórico! (...) Eu digo: 'Vendedores e vendedoras do mundo, unam-se!' (…) juntos venceremos. Não devemos ceder o controle da nossa pátria, pois..." a plateia, em uníssono, repete: "...juntos venceremos!".

É a consagração de Dwight e um convite necessário à reflexão: até que ponto pessoas comuns permitem que a barbárie e o obscurantismo, travestidos de honestidade e grandeza, sejam enaltecidos? Certamente Jim não imaginava que sua brincadeira resultasse na criação de um monstro em potencial. Mas, para sorte daquelas personagens, a ambição de Dwight se restringia à hierarquia da Dunder Miflin. De outro modo, poderíamos nos deparar com um novo Mussolini.

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